domingo, 16 de junho de 2013

Te cuida democracia "consolidada"!

Folha de S. Paulo, 16 de junho de 2013.

Carlos Heitor Cony
Uma lição do passado

RIO DE JANEIRO - O grande assunto da semana que passou foram os protestos, que se tornaram atos de vandalismo, em São Paulo e no Rio de Janeiro principalmente, e até tiveram repercussões internacionais. Não irei comentá-los, seria uma redundância, mas vou lembrar um momento do passado.
Governo de JK (1956-1961). Por duas vezes, oficiais da Aeronáutica tentaram golpes, em Jacareacanga e Aragarças, levaram armas, aviões e deitaram manifestos, exigiam a deposição do presidente e convocavam o povo para uma guerra civil. Juscelino não usou a força para combater os revoltosos. Passada a crise, anistiou todos os oficiais envolvidos no golpe. Praticamente, não perdeu uma noite de sono por causa deles.
Em meio de seu mandato, estoura um movimento no Rio: estudantes ligados à UNE, a pretexto de um aumento nas passagens dos bondes, imobilizam a cidade, deitando nos trilhos da Light e exigindo um recuo do governo que autorizara as novas tarifas.
Ao contrário de Jacareacanga e Aragarças, JK passou duas noites sem dormir. Com seu instinto político, sabia que a paralisação do principal meio de transporte numa grande cidade, mesmo sem atos de vandalismo, representava sério perigo para seu governo.
Convocou a liderança da UNE, serviu cafezinho e água gelada aos estudantes e colocou a questão de forma simples: "Se vocês continuarem o movimento, eu serei deposto e vocês serão presos. É isso o que vocês querem?".
Nem houve debate nem consulta às bases. Os estudantes liberaram os trilhos, os bondes voltaram a circular. Duas rebeliões militares foram esvaziadas, não havia apoio da população para um golpe de Estado. A paralisação pacífica dos bondes numa só cidade fez JK arrumar a mala para ir embora. O episódio consta de suas memórias.

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