domingo, 16 de junho de 2013

O quanto de ignorância uma democracia tolera?

Folha de S. Paulo, 16 de junho de 2013.

A ignorância não tem preço

Para todo esse movimento em torno da redução da tarifa dos transportes públicos não se transformar numa bobagem passageira, existe um debate sério a ser realizado. É uma discussão ainda superficial -e deve envolver toda a sociedade, não só os manifestantes.
Suponha-se que os governantes topem reduzir as tarifas. Pergunta óbvia: qual seria o custo? Segunda pergunta óbvia: de onde sairia o dinheiro? Poderia sair da educação ou da saúde? Talvez da redução da dívida?
A pergunta essencial: quais devem ser as prioridades de uma cidade? O orçamento deve refletir essas prioridades e cortar o que é desnecessário.
A verdade é que o cidadão não acompanha nem sabe como é gasto seu dinheiro. Nem vê os lobbies por trás das decisões. Quanta se paga pelos lobbies das corporações de funcionários públicos?
Nem sabe que paga quatro meses por ano de salário apenas para manter o poder público. No fundo, é como se não fosse nosso dinheiro.
Quando se gastam bilhões para pagar estádios de futebol, o dinheiro saiu de algum lugar. O que se deixou de fazer?
Não existe verdadeira cidadania sem que todos saibam como se realiza um orçamento. Nem imaginam que o pior do país não é a corrupção, mas o desperdício legalizado.
Por isso, defendo que orçamento deveria ser matéria obrigatória na escolas -talvez um bom jeito de ensinar assuntos como matemática e estudos sociais.
Vivemos na ignorância generalizada da cidadania.

Gilberto Dimenstein ganhou os principais prêmios destinados a jornalistas e escritores. Integra uma incubadora de projetos de Harvard (Advanced Leadership Initiative). Desenvolve o Catraca Livre, eleito o melhor blog de cidadania em língua portuguesa pela Deutsche Welle. É morador da Vila Madalena.

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