sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Tudo ou nada

Folha de S. Paulo, 28 de dezembro de 2012.

Crime organizado partiu para o 'tudo ou nada', diz Telhada
Para o ex-comandante da Rota e vereador eleito pelo PSDB, saída de Antonio Ferreira Pinto da pasta da Segurança Pública é prejudicial
FREDERICO VASCONCELOS DE SÃO PAULO
 
O coronel reformado da PM Paulo Telhada, 51, eleito vereador pelo PSDB com a quinta maior votação de São Paulo, teme que a facção criminosa PCC vire uma espécie de Farc, grupo guerrilheiro terrorista que atua na Colômbia.
Em 2009, ele foi nomeado comandante da Rota (grupamento de ações ostensivas da Polícia Militar) pelo ex-secretário Antonio Ferreira Pinto.
Para ele, a troca de comando na Secretaria da Segurança Pública -Fernando Grella Vieira assumiu em novembro- "vai prejudicar muito" o combate ao crime organizado.
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Folha - Como o sr. avalia a votação que recebeu?
Paulo Telhada - Uma grande e grata surpresa. Nunca havia me candidatado. Havia me preparado para 50 mil votos. Quando recebi 89 mil, fiquei apavorado... Aumenta muito a responsabilidade.
Qual é o perfil do seu eleitor?
Muitas pessoas idosas me ligaram. Jovens que também me acompanham prometeram o seu primeiro voto.
Qual foi a influência da corporação militar na votação?
Foi 90%. As pessoas votaram em mim não porque sou o Telhada, mas porque sou o coronel Telhada, que estava comandando a Rota.
Como será sua atuação na Câmara Municipal, uma vez que a segurança pública é competência do governo estadual?
Pretendo trabalhar com a Guarda Civil Metropolitana, procurar a melhoria salarial, aumentar o efetivo.
Como viu a mudança no comando da Segurança Pública?
Com tristeza. Antonio Ferreira Pinto foi o melhor secretário de Segurança Pública que São Paulo já teve. Antes de eu assumir a Rota, em 2009, qual era o combate ao crime organizado? A saída dele vai prejudicar muito o combate ao crime organizado.
A polícia está perdendo a guerra contra o crime?
A polícia nunca perde a guerra contra o crime. O crime joga sujo e a polícia é obrigada a jogar dentro da lei.
Como o sr. avalia os assassinatos de PMs e pessoas comuns?
Entendo a morte de mais de cem policiais como uma retaliação do crime organizado. Os líderes, quem não estava preso, morreram trocando tiros com a polícia.
Como o sr. analisa o agravamento da crise da segurança?
Em três anos, o crime organizado foi praticamente desestruturado. [Eles] Partiram para o tudo ou nada. Começaram a atacar PMs de folga, aposentados. O bandido é covarde. Não ataca o policial na viatura. Tenho medo que o PCC vire um partido político, uma Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia].
A população aprova a Rota?
A população adora a PM, adora a Rota. É unanimidade.
Qual a diferença entre a Rota de Maluf e a Rota de Alckmin?
Não existe Rota de Maluf. Como é um cara muito esperto, prega que a Rota é criação dele. Não é verdade. A Rota é muito mais minha, que fui comandante da Rota, ele não.
Ferreira Pinto disse que a Rota de Maluf era mais sangrenta...
Eu vejo a polícia [hoje] muito mais preparada. A Rota da época do Maluf vivia noutro mundo. Muita coisa mudou.
Como o sr. avalia o episódio que levou o repórter André Caramante, da Folha, a deixar o país, sob ameaças? A integridade física dele o preocupa?
Não, não. Ele é responsável pelo que faz. Eu é que sou ameaçado de morte todo dia.
Fui criticado em todos os jornais, na internet: "Repórter ameaçado pelo coronel". É uma grande mentira. Eu sou [chamado de] nazista, fascista. Estou sofrendo um patrulhamento ideológico terrível. Falam aí que tenho 36 mortes, quero saber onde arrumaram esse número. É mentira.
E o sr. tem quantas mortes?
Não sei, eu nunca contei. Não faço essa conta. Aconteceu, estou vivo, graças a Deus. Eu, que passei a vida combatendo o crime, sou chamado de criminoso. Estou respondendo inquérito policial.

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