quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Cidade sem partidos

Folha de S. Paulo, 4 de outubro de 2012.

Paula Cesarino Costa
Cidade sem partidos

RIO DE JANEIRO - Enquanto São Paulo vive mais um capítulo da renhida disputa entre PT e PSDB, apimentada pelo PRB de Russomanno, o Rio assiste de longe a esse Fla-Flu partidário, na calmaria de uma eleição virtualmente decidida. Aqui, os dois principais partidos nacionais são coadjuvantes. E não é de agora.
Desde a redemocratização, o PSDB venceu apenas uma eleição, entre oito, para o governo do Estado e tem pela segunda vez candidato próprio na capital, com ínfimas chances.
O PT teve seu melhor desempenho municipal em 1992, chegando ao segundo turno. De lá para cá, só perdeu apoio, tendo recebido nas últimas eleições 4,9% dos votos. O PDT, de Brizola, teve um papel único.
O cenário político-partidário do Rio tem singularidades: a debilidade de PT e PSDB, o desprezo pela fidelidade partidária e o pragmatismo.
Para o cientista político Jairo Nicolau, há "uma incapacidade de organizar a vida eleitoral em partidos". O prefeito Eduardo Paes, candidato à reeleição, escancarou sua posição em sabatina no "Globo": "Com todo respeito, não tenho missão partidária, mas carioca. (...) Não sou um homem de partido. (...) O Eduardo Paes é do PMDB, mas estou no partido do Rio", afirmou ele, que começou no PV e passou por PFL, PTB e PSDB até chegar ao PMDB.
Repete a inconstância do ex-padrinho e hoje adversário Cesar Maia (que foi do PDT, PMDB, PFL, PTB e está no DEM). Muito mais pragmáticos do que ideológicos, são políticos com ênfase na gestão.
Num mundo em que governos são derrubados a partir de manifestações organizadas pelas redes sociais, a importância dos partidos e os caminhos tradicionais da política são cada vez mais questionados. Pela ineficiência administrativa, pela permanência da corrupção. Pode ser que esteja sendo gestado um novo fazer político. Com as interrogações e os riscos que isso implica.

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