domingo, 12 de fevereiro de 2012

Tiros na cabeça

Tiros na cabeça predominam em assassinatos durante greve


Na maioria dos homicídios ocorridos na cidade de Salvador, vítima não teve chance de defesa
Levantamento nos boletins de ocorrência da capital baiana mostra que criminosos agiram à luz do dia ROGÉRIO PAGNAN
FÁBIO GUIBU
ENVIADOS ESPECIAIS A SALVADOR
GRACILIANO ROCHA
DE SALVADOR


A maioria das vítimas da onda de violência que tomou conta de Salvador após a greve da Polícia Militar foi morta com tiros na cabeça -o que sugere que elas não tiveram chance de defesa.
Levantamento exclusivo feito pela Folha com base em registros do Departamento de Homicídios da Polícia Civil baiana aponta que, de 109 homicídios cometidos entre 31 de janeiro -data do início da greve- até 9 de fevereiro, 100 foram causados por disparos. Desse total, 59 vítimas receberam tiros na cabeça.
"Quando alguém atira na cabeça é porque conseguiu chegar próximo da vítima. Não é tiro para se defender ou apenas ferir outra pessoa. É para matar", disse o diretor do Departamento de Homicídios, Arthur Gallas.
Outros seis homicídios foram por facadas, duas pessoas foram linchadas e uma mulher morreu carbonizada.
Para comparar, Salvador (2,6 milhões de habitantes) registrou em apenas dez dias mais homicídios do que a média mensal de 85 crimes desse tipo de São Paulo (11,2 milhões de habitantes) em 2011.
Segundo o governo baiano, na região metropolitana de Salvador houve 167 homicídios entre 1º de fevereiro e a manhã de ontem.
O levantamento da Folha inclui apenas os casos da capital. As informações dos boletins de ocorrência apontam que, durante a greve, criminosos agiram à luz do dia.
A análise dos boletins indica que, enquanto tropas federais protegiam pontos turísticos, os homicídios avançaram na periferia, onde a Folha verificou nos últimos dias ausência quase total de policiamento ostensivo.
Dos 109 homicídios da cidade, 99 ocorreram em subúrbios, favelas e bairros pobres -muitos sob o domínio de milícias controladas por policiais, conforme a inteligência da Polícia Civil.
Entre os mortos, 35 tinham sobrenomes Santos, e 14, Jesus -nomes que os escravos trazidos da África entre os séculos 16 e 19 costumavam receber no batismo católico quando chegavam à baía de Todos os Santos. Há característica de acertos de contas ou "limpeza" social em 41 mortes, segundo a polícia.
São casos em que os registros apontam ligações das vítimas com tráfico de drogas, roubos e estupro. Parte dos ataques tinha como alvos pessoas juradas de morte ou moradores de rua. Em três chacinas, 12 foram mortos.

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