quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Camelódromo?

Folha de S. Paulo, 5 de outubro de 2011.

Pivô de escândalo compara Assembleia a camelódromo

Deputado que acusa colegas de vender emendas diz que 'cada um tem um preço'

Barbiere diz que não apontará nomes e afirma ter alertado autoridades do governo estadual em audiências

SILVIO NAVARRO

DE SÃO PAULO

O deputado estadual Roque Barbiere (PTB) comparou ontem a Assembleia Legislativa de São Paulo a um camelódromo e afirmou ter alertado o governo do Estado para a existência de um esquema em que seus colegas negociariam emendas ao Orçamento com prefeitos e empreiteiras.
"Isso é igual camelô, cada um vende de um jeito", disse Barbiere, numa entrevista em seu gabinete na Assembleia. "Cada um tem uma maneira, cada um tem um preço".
Os deputados paulistas têm o direito de apresentar ao governo do Estado todos os anos indicações para o repasse de até R$ 2 milhões em verbas para obras, hospitais e outros projetos de interesse dos seus redutos eleitorais.
Barbiere diz que alguns de seus colegas negociam essas emendas com os prefeitos das cidades beneficiadas e as empresas interessadas nas obras e reafirmou a acusação ontem, mas sem apontar nomes.
O deputado afirmou que discutiu o assunto neste ano com o secretário estadual de Planejamento, Emanuel Fernandes, e a subsecretária de assuntos parlamentares da Casa Civil, Rosmary Corrêa.
Barbiere diz ter sugerido que eles examinassem com atenção casos em que deputados pediram ao governo estadual verbas para cidades em que nunca tiveram votos, onde supostamente não teriam interesse legítimo que justificasse suas emendas.
"Tive essa conversa com Emanuel, com a delegada Rose, sobre esse teor", disse Barbiere. "O deputado não pode destinar emenda para lugar que nem sabe onde fica. Tem algo de estranho nisso."
Barbiere apontou como exemplo São José dos Campos, reduto político do secretário Emanuel Fernandes . "O dia que eu, Roquinho, destinar R$ 1 milhão para para São José dos Campos... Eu nunca fui a São José, nem sei ir. Viu como é fácil controlar? Não precisa eu dar nome."
Em nota, o governo do Estado negou ter recebido de Barbiere qualquer comunicação de irregularidade no uso das emendas. "O deputado tem o dever de apontar casos concretos que sustentem suas graves denúncias. Até agora não o fez", afirma a nota.
Barbiere prometeu apresentar amanhã um depoimento por escrito ao Conselho de Ética da Assembleia, mas insistiu que não dará nomes de colegas. "Nem com revólver na cabeça. Meu objetivo não é dedurar ninguém, é acabar com a prática."
Ele afirmou que, "dependendo de como for tratado", entregará "um caso concreto" somente quando for ouvido pelo Ministério Público, que abriu inquérito para investigar suas acusações.
Barbiere falou pela primeira vez sobre o caso em agosto, numa entrevista ao jornal "Folha da Região", de Araçatuba, seu reduto eleitoral. O deputado disse ontem que a imprensa deveria "ajudar" as investigações. "Não é buscar nome que nem vampiro, vocês gostam de foder alguém".
Ele sugeriu que a venda de emendas seria uma prática de parlamentares mais antigos e não dos novatos que que chegaram à Assembleia neste ano. "Para os mais antigos, não é nenhuma surpresa o que eu falei. Se fingir surpresa, é por hipocrisia."

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