quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Vasos comunicantes...

Folha de S. Paulo, 02 nov 2010

Tráfico faz ameaças a militares fora do Complexo do Alemão
Thu, 02 Dec 2010 07:41:20 -0200


Soldados do Exército dizem que estão sendo expulsos de onde moram
Criminosos deixam ordens às famílias para que militares "não voltem mais para casa"; alguns ficam em quartel
ROGÉRIO PAGNAN
JOEL SILVA
DOS ENVIADOS ESPECIAIS AO RIO
Em represália à ação no Complexo do Alemão, soldados do Exército que participam da ocupação dizem que estão sendo expulsos das favelas onde moram por traficantes ligados à facção criminosa Comando Vermelho.
De acordo com soldados ouvidos pela Folha, pelo menos cinco deles receberam ordem de criminosos para não voltar para casa e desde sexta estão acampados no quartel improvisado próximo ao Complexo do Alemão.
O Exército participa da ocupação do Alemão desde a semana passada com cerca de 800 homens -todos são lotados no Rio.
Na lista estão militares que moram em favelas como Caxias, favela da Galinha e Anchieta. Outros soldados não quiseram dizer à Folha onde moram com suas famílias.
Ainda de acordo com relatos dos militares, os traficantes -todos armados- estão indo de moto e deixando a ordem para que os soldados "não voltem mais para casa".
Um soldado que mora em Caxias abandonou a casa com móveis recém-comprados, segundo os colegas.
Outro militar disse que a mulher abandonou a casa onde moram após ser abordada por traficantes.
O tenente-coronel Cláudio Tavares Casali, um dos comandantes da operação no Alemão, confirma que cerca de dez soldados que participam da operação foram "pressionados" por traficantes supostamente ligados aos criminosos do CV.
Ele disse saber apenas de um militar que afirmou que vai mudar de endereço após essa "pressão".
Casali disse que a Secretaria de Segurança foi informada e, agora, a polícia deve iniciar a investigação.
Os militares que se sentirem ameaçados, segundo ele, estão sendo retirados da linha de frente e utilizados em outros serviços.
Segundo os militares, as ameaças tiveram início na última sexta-feira quando o Exército cercou o Alemão. "Até então, ninguém mexia com ninguém. Agora, viram que estamos nas ruas e passaram a nos perseguir como se fôssemos policiais", disse um soldado.
Ao contrário dos policiais civis e militares, quando deixa o quartel, o soldado não tem direito de portar qualquer tipo de arma de fogo.
O Exército informou não ter tomado conhecimento de nenhuma queixa da tropa, mas disse que vai averiguar as denúncias.
"Não houve nenhuma reclamação nesse sentido", disse o chefe de comunicação do Comando Militar do Leste, coronel Ênio Zanan. Segundo ele, o Exército participou de outras operações em favelas do Rio, sem registro de militares ameaçados.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
1 .As milícias têm relação com a crise atual?
Até agora, não há indícios de que as milícias estejam envolvidas. Mas elas podem se aproveitar, conquistando mais territórios, por exemplo, já que o tráfico está mais fraco e os policiais estão concentrados no Alemão. As milícias também podem vender armas e proteção aos traficantes. Além disso, elas saem dos holofotes em que estavam por causa do filme "Tropa de Elite 2".
2. Qual providência foi tomada diante do relato de moradores sobre abusos cometidos por policiais?
A PM montou um posto de sua ouvidoria no 16º BPM. A Defensoria Pública também montou um posto de atendimento.
 

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