sábado, 11 de dezembro de 2010

E o direito de ir e vir?

Jornal do Commercio, 12 dezembro 2010
» INSEGURANÇA
Banco 16 Horas Perigo no caixa
Publicado em 12.12.2010

Por causa da onda de arrombamentos, caixa 24 horas virou equipamento do passado. Há 15 dias, só é possível sacar das 6h às 22h

Banco 24 horas agora só no letreiro luminoso. Há 15 dias, quem precisa sacar dinheiro depois das 22h é pego de surpresa por uma tela preta. Tudo desligado. É o sinal mais visível da atmosfera de medo que ronda a cidade após a onda de arrombamentos e explosões de caixas eletrônicos registrada nos últimos meses. Só este ano, 60 investidas do tipo foram registradas pela Secretaria de Defesa Social (SDS) em todo o Estado. Em 23 delas, os criminosos não conseguiram levar o dinheiro. A medida é radical. Para minimizar o risco e diminuir o número de pessoas nos estabelecimentos, a rede 24 horas resolveu acabar com o serviço. Agora, no Recife, sacar dinheiro nesse tipo de equipamento só das 6h às 22h. Todos os terminais são desligados automaticamente pela central de operações da rede. Não adianta reclamar com o dono do estabelecimento.
Terça-feira, véspera do feriado em homenagem à Nossa Senhora da Conceição, o JC circulou por vários bairros do Recife para medir a reação dos clientes diante da nova medida. Numa loja de conveniência instalada num posto de gasolina da Avenida Conde da Boa Vista, no bairro de mesmo nome, na área central, muitos clientes foram pegos de surpresa. “Eu pensava que era problema de manutenção. Acho um absurdo a falta de comunicação. Eles precisam também mudar o nome. É propaganda enganosa. Como podem dizer que prestam um serviço 24 horas e só funciona até as 22h?”, questiona a estudante de Direito Rafaela Botelho, 22 anos. Acompanhada por um amigo, ela desistiu da programação de lazer. “Não tenho mais como ir. Se a gente tivesse sido avisado antes, teria arrumado uma forma de chegar mais cedo.”
O segurança da loja informou que o desligamento automático foi posto em prática há 15 dias. “Muita gente vinha até aqui para retirar dinheiro e acabava consumindo algum produto na loja. Mas isso foi uma decisão deles”, avisou. De acordo com o segurança, grande parte dos clientes sai reclamando. “Muita gente não entende e reclama da decisão.”
Em todos os postos da Avenida Rosa e Silva, no bairro dos Aflitos, Zona Norte, que possuem terminais eletrônicos, a situação é a mesma. “É uma mentira chamar de 24 horas. Coloquem no jornal que eles estão desligando as máquinas. Os clientes reclamam”, afirmou um dos funcionários do posto da Rosa e Silva, que preferiu não ser identificado.
Além dos equipamentos da rede 24 horas, algumas instituições bancárias também estão adotando a mesma medida. A reportagem do JC encontrou quatro caixas eletrônicos do Itaú, também em lojas de conveniência, desligados. Em alguns supermercados, os aparelhos dos bancos do Brasil e Bradesco estavam funcionando mesmo após as 22h.
Em Aldeia, no município de Camaragibe, no Grande Recife, o comerciante Fábio Jorge da Silva, dono de uma delicatessen no KM-9, tomou uma medida mais radical. Entrou em contato com a rede 24 horas e solicitou a retirada do equipamento que havia no seu estabelecimento. “Resolvi solicitar a retirada porque a gente não se sente seguro. Um posto de gasolina aqui perto também tomou a mesma atitude.” Fábio faz questão de salientar que tomou a decisão para preservar os próprios clientes.
“No momento em que nos oferecerem a segurança necessária, volto a colocar o terminal eletrônico aqui. Esperamos algum tipo de ação definitiva. É um serviço em prol dos clientes.” Ele disse que o equipamento era bom para o estabelecimento. “Oxigena o comércio. Muita gente vem sacar dinheiro, entra na loja e acaba comprando alguma coisa. Mas, como as coisas estão, não temos condições de colocar novamente.”
AUTONOMIA
A assessoria de imprensa da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) informou que o órgão não é fiscalizador e, por isso, as instituições têm autonomia para decidir sobre a questão. A entidade salientou que não orientou os bancos a procederem dessa maneira. A única orientação da Febraban em relação à violência ocorreu em 1998. Na ocasião, os bancos foram orientados a limitar o saque a R$ 100 depois das 22h.

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